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sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O show do purgante...

Do Jornal GGN:

Armando Coelho Neto





Depois do golpe, a violência e o escárnio. Um golpe no qual os golpistas têm vergonha de tratar pelo nome, posto que nas suas visões restritas, golpe só com tanques e baionetas. Há quem diga que o Criador impôs sérios limites à inteligência, mas foi tolerante e pusilânime diante da ignorância. A ignorância de quem tem a obrigação de saber e não sabe, mas que sabe e tem a arrogância de ignorar. A ignorância escamoteada e assumida, com ares provocantes contra o interlocutor.

Num golpe marcado pela violência literal promovida pela assassina Polícia Militar de São Paulo, o escárnio veio por intermédio de “Tchau Querida” e com um governo impostor que de pronto pôs fim ao Ministério da Educação e, para inaugurar a era do cinismo, o ato liminar pró-educação foi receber um ator pornô. É escárnio ou não é? Desse modo, a mídia entreguista e moralmente desqualificada, passou a dar voz a qualquer bandido que queira insultar Dilma, PT, Lula ou qualquer pessoa que, mesmo não sendo petista, como eu, ouse dizer: não é bem assim.

- Respeitável público! Depois do sucesso de “Não tenho provas, mas a literatura jurídica me autoriza!”...  Depois do espetáculo do “Barnabé Apressado”, que queria prender o ex-Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva antes de Sérgio Moro, mais uma grande obra no circo da Farsa Jato! Senhoras e senhores, depois da “Sentença Bíblica” (Dilma que vá se queixar ao papa!) e do sucesso de crítica, de público do “O Dia do Sim, Sim, Sim, Sim”; depois do igualmente consagrado espetáculo de “Inquérito de Gaveta”, temos a grande desonra de anunciar a novíssima opereta do golpe das baratas (morde e assopra)! Antes, porém, um pouco de suspense...

Como alguém já disse que seria cômico se não fosse trágico, permitam-me enveredar não apenas pelo humor, mas também pela poesia.

 “Quando mais ao povo a alma falta, mais a minha atlântica se exalta e entorna...”, consta da obra de Fernando Pessoa, cujas contradições políticas não quero debater. Mas, depois que a dita grande mídia roubou a alma do povo, quanto mais essa mesma alma falta, mais a minha alma atlântica se exalta, se exaspera, se perde em inócuos ensaios de resistência a esse momento de escárnio humano. Inquieto, só me veio um pouco de consolo no dia de ontem, após a fala do grande líder Lula, que de tão tripudiado por almas opacas, nunca tive tempo para dizer dele minhas queixas. Calmo, ele pediu calma e não serei eu que não sou PT e nem me coliguei com o impostor Michel Temer que irei me exasperar...

Que vergonha! O que fazer com o título de eleitor e o diploma do curso de Direito? O país da Constituição rasgada, do Judiciário com Partido, da imprensa do pensamento único acaba de lançar  “A Opereta  do Power Point”, que de tão insólita agrediria dos mais conservadores aos mais revolucionários juristas da Historia do Direito e intelectuais de outras áreas. De Hans Kelsem a Jürgen Habermas. Como pode? Durante um espetáculo grotesco e medieval as fogueiras da inquisição foram trocadas por holofotes. Seguidores de “Janaina 45 dinheiros” anunciaram solenemente: “não temos provas, mas temos convicção”.


Desesperado, corri para a internet e vi um texto  que republico mesmo sem provas, mas com toda a convicção.

“Chamado de quatro olhos na escola, sofria bullying e apanhava dos amigos. Nunca conseguiu namorada. Passou na UFPR, nunca ganhou eleição do Centro Acadêmico e desenvolveu raiva contra os ‘esquerdinhas’ de quem sempre perdia. Mas, “passou em Harvard”, ainda que discriminado por ser terceiro mundista. Aprovado em concurso público, nunca conseguiu se eleger para o sindicato de sua categoria. Passou a sonhar com um cargo maior nacional e a saída que os quatro olhos encontraram foi tentar prender o Lula”.

“Delenda est Carthago” (Cartago precisa ser destruída) tem protagonizado cenas deprimentes. “A Opereta do Powers Point” foi uma das mais grotescas no vergonhoso circo da Farsa Jato. Dizem que até alguns de seus capitães do mato não gostaram. Uma violência tão absurda contra os direitos humanos, que desisti da raiva e aderi ao histriônico. 


Nesse contexto circense a mais sugestiva e irônica frase teria vindo de um juiz carioca: o que esperar de alguém que tem nome laxante?

Armando Rodrigues Coelho Neto é advogado e jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo