O Jornal GGN publica texto de autoria do ex-delegado da Polícia Federal Armando Rodrigues Coelho Neto que analisa a atuação do sr. Sérgio Moro que se apresenta Salvador da Pátria além de Juiz titular da 13ª Vara Federal em Curitiba. E uma boa lição de direito e de como a lei é aplicada em plagas paranaenses...
Eis que Moro confessa suas ilegalidades
por Armando Rodrigues Coelho Neto (*)
Quando o Tancredo Neves morreu, sem ainda ter assumido a presidência,
as mais suspeitas figuras surgiram com pareceres para dizer não apenas
que José Sarney era o presidente, mas que Dona Risoleta Neves tinha
direito a pensão de viúva - daquele que foi sem nunca ter sido. Na minha
vigilância constante de não confundir o leitor, não quero entrar no
mérito do que foi ou não foi o tal Sarney, nem afrontar a bondosa
senhora das Minas Gerais. Quero apenas dizer que à época corria nos
bastidores uma crítica a certo Saulo Ramos: no Brasil tem parecer
jurídico pra tudo. Até pra dizer que Sarney é presidente.
Como no Brasil tem parecer pra tudo, teve um certo Joaquim Barbosa
que desenterrou uma teoria de guerra para condenar José Dirceu; teve uma
certa “Janaína 45 dinheiros”, que em nome de Deus (ou do diabo!) fez
lá um arrazoado que foi acolhido pelo insuspeito Eduardo Cunha, que
depois de chantagear a Presidenta Dilma Rousseff, hoje está no comando
da Nação. Cunha alimenta o velho espectro das eminências pardas, tipo
Golbery do Couto e Silva ou do bruxo Ravengar, personagem do impagável
Antônio Abujamra na telenovela “Que Rei Sou Eu”, produzida pela golpista
Organizações Globo.
Escrevo a propósito de um certo Sérgio Moro, idolatrado por mal
informados, falsos moralistas, coisa e tal. O Moro mesmo odiado pelos
legalistas, democratas, pelos que defendem guerra a um sistema corrupto e
não apenas a um ou outro corrupto eleito pela mídia ou por uma
produtora de ódio qualquer. Afinal, costumo dizer: quando for para
combater a corrupção pode me convocar. Não fiz outra coisa em mais de 30
anos na Polícia Federal - sempre me esquivando as farsas, claro!.
Volto ao Sérgio Moro que recentemente defendeu a aceitação da prova
ilegal, desde que obtida de boa Fé. A essa altura, creio, a prova
produzida contra Eduardo Cunha deve ter sido coletada de má fé, pois até
agora para nada serviu. Contra Temer/Serra e seu rancho “meras
suspeitas, citações aleatórias”, cuja “verdade real” tão buscada em
pedalinhos e tríplex não se tem notícia. Mas, prenderam o Eduardo errado
(Suplicy) por estar numa manifestação, enquanto Eduardo Cunha (solto)
comanda os títeres do golpe, na maior farsa “legal” da história do País,
na base do “quem compra o mais compra o menos”.
Moro defende prova ilegal. Tão ilegal quanto prende para confessar.
Condução coercitiva disfarçada de convite irrecusável, divulgar
gravações ilegais. Mas, na linha Sarney, deve ter parecer para isso. O
mais surpreendente dessa história de prova ilegal de boa fé veio de quem
ninguém esperaria. Gilmar Mendes, que nunca escondeu seu ódio ao PT,
sua simpatia política por bandidos de estimação da “grande mídia”, disse
para o tal Moro: quer dizer, então, que se uma confissão for obtida sob
“tortura de boa fé, vale”?
O Episódio Sérgio Moro/Gilmar Mendes, no caso, lembrou o cineasta
Augusto Boal, que numa entrevista a uma emissora do golpe, afirmou ter
sido torturado e o próprio policial federal que o torturou disse que
“foi tortura no bom sentido”. Boal que reconte com mais fidelidade essa
história, pois quero voltar à prova ilegal, recorrendo ao Jurista Lenio
Luiz Streck, que ironizou Moro: “A proposta atira fora o bebê junto com a
água suja”. Diz mais, sob pretexto de combater o crime, pode-se violar
garantias e ilicitude mais boa-fé é igual a licitude. “Funcionaria
muito bem em regimes totalitários” (Streck)
- Ah, Sérgio Moro! Conta essa pros capitães do mato da Farsa Jato
(respeitadas as exceções). Moro, na defesa de sua tese no Parlamento,
soube eu, existir até um quê de Cesare Lombroso, criminologista italiano
(1835-1909) que criou os condenáveis perfis biológicos de criminosos –
perfil lambrosiano. Quem tiver a orelha/nariz assim assado vai ser
bandido. Por que isso? Moro defende também o “Minory Report”, uma
futurologia cinematográfica (2002 - Tom Cruise/Steven Spielberg) na qual
testes psiquiátrico-psicológicos ou divinos provam que no futuro alguém
vai delinquir e deve ser exterminado antes que o faça. Algo assim, esse
vai ser petista, mata!
Pau-de-arara de boa fé. É difícil ser precário, como eu, e tentar
debater complexidades. Mas, ao defender a prova ilegal, Moro
implicitamente confessa que já faz uso dela.
(*) Delegado da Polícia Federal aposentado