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terça-feira, 12 de julho de 2016

O futuro que nos espera...

Do Jornal GGN no Luís Nassif Online: 

Dez anos depois do fim da CLT

 por Átila de Rold Roesler


Jornal GGN – Em artigo para o Justificando, o juiz do trabalho, Átila da Rold Roesler, faz um exercício e se imagina no futuro, em 2027, dez anos depois do fim da CLT. “Na verdade, nem consigo lembrar direito como retiramos flexibilizamos todo o direito do trabalho ou driblamos a Constituição Federal. Não sei se foi aos poucos, não sei se foi com uma ruptura abrupta ou se foi um golpe. Mas não importa. Conseguimos, enfim”.

“Mas algo deu errado. Nesse tempo, vimos surgir bancos sem bancários, hospitais sem médicos, escolas sem professores, companhias aéreas sem pilotos/comandantes, empresas sem empregados, fazendas sem trabalhadores rurais, Estado sem funcionalismo público. Após sucessivas reformas, acompanhamos inertes a Previdência Social ser reduzida ao mínimo existencial. A educação e a saúde pública foram privatizadas. O salário dos trabalhadores baixou a um nível indecente por conta da precarização sem limites. Crianças e adolescentes voltaram a trabalhar para complementar a renda da família. No campo, se trabalhava apenas por comida e teto. Os pobres se tornaram miseráveis, desfalecidos. Depois, assustados, vimos a classe média despencar para o fundo do abismo e o consumo de bens e serviços cair vertiginosamente. O emprego foi reduzido a nada”.

Abaixo, a íntegra do artigo:

Do Justificando


Por Átila da Rold Roesler

“Precários nos querem, rebeldes nos terão” (autor desconhecido).

Brasil, 2027. Já se passaram mais de dez anos desde que sepultamos-precarizamos os direitos trabalhistas nesse país de tamanho continental e de graves desigualdades regionais. Estávamos absolutamente certos de que era o melhor a ser feito. Na época, a crise econômica era grave e não havia outra solução: o desemprego era grande e só aumentava, mês após mês, tampouco tínhamos qualquer expectativa de melhora. O “pato” chegou à conclusão de que a culpa de tudo isso era do direito do trabalho, da “velha CLT” e daquela “justiçazinha atrevida” que se dizia “especializada” e ousava se postar corajosamente em defesa dos chamados “direitos sociais”. 

Ah, é claro... havia uma Constituição rígida que dificultava a retirada desses direitos ditos “fundamentais”. Mas ela já não valia mais nada, era um sonho que nunca vingou, um espectro a nos iludir, um pedaço de papel que ninguém conhecia. Estava lá e não estava lá. Importava menos do que uma lei ordinária qualquer, muito menos do que um acordo coletivo. Nós dizíamos que a “liberdade” de contratação libertava o indivíduo e revelava a sua plena autonomia nas relações sociais e jurídicas. Acho que esse era o “espírito” da época. 

Na verdade, nem consigo lembrar direito como retiramos flexibilizamos todo o direito do trabalho ou driblamos a Constituição Federal. Não sei se foi aos poucos, não sei se foi com uma ruptura abrupta ou se foi um golpe. Mas não importa. Conseguimos, enfim.

Mas algo deu errado. Nesse tempo, vimos surgir bancos sem bancários, hospitais sem médicos, escolas sem professores, companhias aéreas sem pilotos/comandantes, empresas sem empregados, fazendas sem trabalhadores rurais, Estado sem funcionalismo público. Após sucessivas reformas, acompanhamos inertes a Previdência Social ser reduzida ao mínimo existencial. A educação e a saúde pública foram privatizadas. O salário dos trabalhadores baixou a um nível indecente por conta da precarização sem limites. Crianças e adolescentes voltaram a trabalhar para complementar a renda da família. No campo, se trabalhava apenas por comida e teto. Os pobres se tornaram miseráveis, desfalecidos. Depois, assustados, vimos a classe média despencar para o fundo do abismo e o consumo de bens e serviços cair vertiginosamente. O emprego foi reduzido a nada.

Fizemos de tudo e a crise econômica não diminuiu, só aprofundou. Trabalhadores e pequenos empresários acabaram sendo triturados diante da investida do capitalismo selvagem do tipo “walmartismo”[1] praticado por grandes empresas multinacionais. A era da precarização tinha chegado ao fim. Iniciava-se outra.

Nesse período, o aparato policial do Estado aumentou assustadoramente, a segurança privada ganhou espaço significativo, milícias foram legalizadas, leis penais mais rígidas foram aprovadas no Congresso, processos criminais ganharam prioridade de julgamento, o devido processo legal foi mitigado, advogados perseguidos, prisões foram construídas e privatizadas e o controle social da população se tornou necessário para impedir a desordem e garantir o progresso do país. Vigilância em nossas ruas e avenidas, drones, policiais-robôs. Ainda assim, aplaudíamos.

Apesar de tudo isso, a violência continuou a aumentar significativamente: furtos, roubos, contravenções, drogas, intolerância, atentados, revoltas, tumultos, crimes cibernéticos. A situação era caótica nas cidades e no campo. Tudo parecia estar fora de controle. O desespero tomava conta da sociedade, pois não havia crescimento econômico, a crise se agravava e grande parte da população brasileira passava fome como outrora. Então, quando festejamos aretirada completa de direitos fundamentais as reformas trabalhistas pensando que avançaríamos, na verdade, acabamos retrocedendo mais de um século em nossas relações sociais. Nesse contexto desesperador, outro espectro há muito desaparecido rondava o Brasil de 2027. E ele parecia incontrolável.

Foi aí que começamos a indagar: “onde erramos?”

Átila Da Rold Roesler é juiz do trabalho na 4ª Região e membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD).

[1] A expressão é de Pietro Basso, utilizada no artigo “O walmartismo no trabalho no início do século XXI”. Revista Margem Esquerda n. 18, Boitempo Editorial, 2012, p. 25.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

E Temer recria o SNI...

Luís Nassif publica em seu site um texto que mostra com clareza a quantas anda a volta a um passado que todos procuramos esquecer. Em uma série de artigos denominados "Xadrez" envolvendo a política nacional, ele revela a recriação pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI) por decreto que tem a os dedos e a inspiração do General Sérgio Etchegoyen - militar de extrema direita que contraria toda a política nacionalista que caracterizou o Exército Brasileiro  durante bom tempo. 

O caráter antidemocrático, retrógrado, truculento e que nos lembra o malfadado Serviço Nacional de Informação (SNI) da ditadura, o tal decreto faz parte de um conjunto de medidas que buscam a desconstrução da Política Nacional de Defesa e a preocupação com a Amazônia Azul - leia-se Pré-Sal - e o reaparelhamento das Forças Armadas sob a inspiração de Etchegoyen que parece cumprir ordens do exterior e acabar de vez com qualquer pretensão brasileira de se tornar respeitado em matéria de Defesa Nacional. O novo decreto de Temer faz parte do processo que começa com a entrega do setor nuclear à General Eletric e à Westinhouse, americanas e deve ser concluído com essas empresas substituindo a Marinha no Pro-Sub, o Projeto de construção do Submarino Nuclear. 

Toda essa política de entreguismo é aplicada sob o silêncio cúmplice das Forças Armadas

A criação do novo SNI veio por decreto e Nassif o revela neste texto: 

O Xadrez da volta da doutrina da segurança nacional

 
 

Em um Xadrez passado alertamos para a tendência do governo interino de intensificar as ações de segurança nacional, como uma ameaça concreta à democracia.

O decreto no. 8.793, de 29 de junho passado, que fixa a Política Nacional de Inteligência é o passo mais ousado nessa direção (http://migre.me/ufH0w).

Assinado pelo interino Michel Temer e pelo Chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Sergio Westphalen Etchegoyen, o decreto visa criar uma política para armar o país contra ameaças trazidas por esses tempos cibernéticos e de terrorismo.

Contempla a proteção de forças de conhecimento nacional, medidas contraespionagem cibernética, contraterrorismo etc. Mas confere poderes e atribuições que podem facilmente resvalar para o autoritarismo e para o desrespeito aos direitos humanos. E isso, em uma etapa da vida nacional de radicalização e de instrumentalização política dos instrumentos de investigação.

Confere ao GSI e à Política Nacional de Inteligência o poder de monitorar movimentos, manifestações, cooptar funcionários públicos para a função de segurança e até monitorar cientistas brasileiros no exterior.

 O decreto define assim as atividades de inteligência e contrainteligência:

I – Inteligência: atividade que objetiva produzir e difundir conhecimentos às autoridades competentes, relativos a fatos e situações que ocorram dentro e fora do território nacional, de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório, a ação governamental e a salvaguarda da sociedade e do Estado;  

II – Contrainteligência: atividade que objetiva prevenir, detectar, obstruir e neutralizar a Inteligência adversa e as ações que constituam ameaça à salvaguarda de dados, conhecimentos, pessoas, áreas e instalações de interesse da sociedade e do Estado. 

Movimentos populares podem ser facilmente enquadrados nessas categorias. Hoje em dia, procuradores açodados montam ações até para impedir manifestações políticas em universidades. Mas suas decisões são submetidas ao Judiciário. No caso das ações de inteligência, não há instância capaz de monitorar e contar os abusos.
O parágrafo seguinte é significativo:

Cumpre à Inteligência acompanhar e avaliar as conjunturas interna e externa, buscando identificar fatos ou situações que possam resultar em ameaças ou riscos aos interesses da sociedade e do Estado. O trabalho da Inteligência deve permitir que o Estado, de forma antecipada, mobilize os esforços necessários para fazer frente às adversidades futuras e para identificar oportunidades à ação governamental.  

E tudo isso protegido pelo manto do silêncio.

A atividade de Inteligência exige o emprego de meios sigilosos, como forma de preservar sua ação, seus métodos e processos, seus profissionais e suas fontes. Desenvolve ações de caráter sigiloso destinadas à obtenção de dados indispensáveis ao processo decisório, indisponíveis para coleta ordinária em razão do acesso negado por seus detentores. Nesses casos, a atividade de Inteligência executa operações de Inteligência - realizadas sob estrito amparo legal -, que buscam, por meio do emprego de técnicas especializadas, a obtenção do dado negado. 

Mais que isso, o decreto define que “capacidades individuais e coletivas, disponíveis nas universidades, centros de pesquisa e demais instituições e organizações públicas ou privadas, colaborem com a Inteligência”.

Como ameaças ao Estado nacional, o decreto define “a espionagem, propaganda adversa, desinformação, a sabotagem e a cooptação”. Propaganda adversa era o termo utilizado pelos militares para coibir qualquer crítica ao regime.

O decreto estipula também “ações preventivas concertadas entre os organismos de Inteligência de diferentes países, e desses com suas estruturas internas”, visando impedir a “deflagração de crises em áreas de interesse estratégico do Estado”.

Quem define o interesse estratégico, obviamente, é o GSI.

Há algumas ameaças óbvias, como “criminalidade organizada; narcotráfico; terrorismo e seu financiamento; armas de destruição em massa; e atividades ilegais envolvendo comércio de bens de uso dual e de tecnologias sensíveis”.

Mas o decreto inclui um vasto campo de possibilidades que permitem o subjetivismo na análise dos riscos. Como, por exemplo, quando menciona “interferência externa no processo decisório ou que autoridades brasileiras sejam levadas a atuar contra os interesses nacionais e em favor de objetivos externos antagônicos. A interferência externa é uma ameaça frontal ao princípio constitucional da soberania”.

O que seria “interferência externa”? Um movimento popular pode ser enquadrado como interferência externo de um bolivarianismo, castrismo ou outro ismo qualquer? 
“Deve constituir também motivo de constante atenção e preocupação a eventual presença militar extrarregional na América do Sul, podendo ser caracterizada como ameaça à estabilidade regional”.

O capítulo 6 define as “Ações Contrárias ao Estado Democrático de Direito”.

“São aquelas que atentam contra o pacto federativo; os direitos e garantias fundamentais; a dignidade da pessoa humana; o bem-estar e a saúde da população; o pluralismo político; o meio ambiente e as infraestruturas críticas do País, além de outros atos ou atividades que representem ou possam representar risco aos preceitos constitucionais relacionados à integridade do Estado.  
Identificar essas ações e informar às autoridades governamentais competentes é tarefa primordial da atividade de Inteligência, que assim estará proporcionando aos governantes o subsídio adequado e necessário ao processo de tomada de decisão”.

Mais uma vez, caberá ao GSI definir quem se enquadra nessas ações.
Não ficará nisso. Monitorará também os cientistas brasileiros que forem trabalhar no exterior. 

Paralelamente, a cooperação técnico-científica mundial demanda a presença de especialistas brasileiros em vários pontos dos cinco continentes. 

Nesse cenário, torna-se imprescindível para a Inteligência conhecer as principais ameaças e vulnerabilidades a que estão sujeitas as posições e os interesses nacionais no exterior, como forma de bem assessorar o chefe de Estado e os órgãos responsáveis pela consecução dos objetivos no exterior. 

Assim como no período militar, o decreto prevê “treinamento de servidores públicos encarregados de temas e missões sensíveis e pela implementação efetiva de contramedidas de segurança corporativa indispensáveis à segurança e ao desenvolvimento da atividade de Inteligência”. 

No final, há um capítulo relativo à proteção das infraestruturas críticas nacionais.

“Ameaças como terrorismo, organizações criminosas transnacionais e grupos de diferentes origens e com distintos interesses ligados a atos de sabotagem devem ser monitoradas, como forma de minimizar as possibilidades de sucesso das ações que visem a interromper ou mesmo comprometer o funcionamento das infraestruturas críticas nacionais.  

Nesse cenário, a Inteligência deve participar do processo de avaliação de riscos e vulnerabilidades relativos a alvos potenciais daquelas ameaças, visando a concorrer para a proteção das infraestruturas críticas nacionais”.

É a economia, estúpído!!!

Invocando o desabafo do assessor de Bill Clinton em sua campanha para a presidência dos Estados Unidos, titulamos artigo de André Araújo, publicado hoje no site do Luís Nassif onde ele mostra historicamente que a economia no Brasil foi terceirizada para os grandes bancos em processo que a ditadura militar tentou evitar, mas que os tucanos de Fernando Henrique, em golpe contra o país, aplicaram no Plano Real. 

A matéria é imperdível para quem quer saber um pouco mais do que está em jogo no atual golpe de estado: 

A terceirização da política econômica







A TERCEIRIZAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA - O Governo Militar, ao criar o Banco Central em 1965, teve a prudência de impedir o seu controle pelo sistema financeiro privado, colocando ACIMA dele o Conselho Monetário Nacional, um órgão colegiado que tinha DEZ membros, três naturais, o Ministro da Fazenda, o Presidente do Banco do Brasil e o Presidente do BNDE e SETE membros indicados pelo Presidente da República. Os sete membros indicados pelo Presidente da República, desde o início do Conselho, incluíam grandes nomes da agricultura, da indústria, do comércio, economistas independentes e o objetivo era claro, ter um organismo de grande poder e com várias visões do processo econômico, de maneira a ter um balanceamento entre todos os setores da economia nacional. Era no Conselho Monetário Nacional que, por lei, se decidiam a política monetária, a cambial, a de crédito, a fiscal e o Conselho também tinha a tarefa de supervisionar o Banco Central, que tinha muito menos poder do que hoje, porque o poder estava no Conselho Monetário.

Quando foi implantado o Plano Real, o grupo de economistas que montou e operou o Plano deu  um "golpe de Estado" no Conselho Monetário Nacional e na própria lei que criou o Real (lei 9069/65)  ACABOU COM A REPRESENTAÇÃO DA ECONOMIA PRODUTIVA, em vez de DEZ membros, o CMN passou a ter apenas três, os Ministros da Fazenda e do Planejamento e o Presidente do Banco Central,  ficando a Secretaria Executiva do Conselho exatamente com o Banco Central, que era o órgão que o CMN deveria controlar. Transferiu-se assim todo o poder sobre a economia para dois dos três únicos membros do Conselho, o Ministro da Fazenda e o Presidente do Banco Central, na prática dois em um Conselho de três mandam sozinhos.

O Plano Real foi um plano de financistas para financistas e para fazer o espetáculo completo EXPULSARAM das decisões sobre a política econômica a economia da produção e do consumo, a economia que gera empregos. O total da economia ficou assim sob exclusivo controle do Ministro da Fazenda e do Banco Central.

Quando ambos, Fazenda e BC, são oriundos do MERCADO FINANCEIRO, o Governo do Brasil perde completamente o domínio sobre a política econômica para o sistema financeiro, que gere sozinho e sem contrapontos o total da economia.

É um CASO ÚNICO entre as dez maiores economias do planeta, não há nenhum outro País onde se cometeu semelhante desatino. O sistema financeiro tem seus próprios interesses que são por natureza ANTAGÔNICOS aos interesses da economia produtiva, terceirizar para esse sistema o total da política econômica é suicídio político.

No presente momento há uma agravante, Henrique Meirelles fez toda sua carreira no Banco de Boston, um banco regional americano que no Brasil se especializou em atender clientes de alta renda. Esse Banco foi vendido ao BANCO ITAÚ, todas as agências do Banco de Boston se transformaram em agências do Banco Itaú dedicadas a clientes Personalité, a faixa mais alta de renda.  Já o Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, era, até antes de ser indicado, o principal economista do Banco Itaú, do qual era diretor. Quer dizer, dos três membros do Conselho Monetário Nacional, DOIS tem vinculação com o Banco Itaú, o maior banco privado nacional.

O interesse de um grande Banco de depósitos que tem a maior parte dos seus ativos em valores líquidos no País é ter o Real o mais valorizado possível porque então seus ativos em DÓLAR serão mais altos quanto menor for a cotação do dólar. A rebaixa do dólar em 11% só neste mês pode ser péssima para o País mas será otima para o Banco Itaú.

Esse desenho de completa terceirização da política econômica é sem paralelo entre as grandes economias. O Governo está completamente VENDIDO na condução da política econômica, não tem contrapesos ao controle da economia pelo sistema financeiro. Para completar a mídia conservadora, toda ela, tem exclusivamente comentaristas a favor do sistema financeiro, não há nenhuma opinião divergente ou que aponte esses descaminhos, ao contrário do que acontece nos EUA, onde a Secretaria do Tesouro não tem nenhuma ligação doutrinária com o Federal Reserve System, um é contrapeso do outro e a Casa Branca conta com um fortíssimo centro de aconselhamento do Presidente, o CONSELHO DE ASSESSORES ECONÔMICOS da Casa Branca, onde estão economistas independentes que não pertencem nem ao Fed e nem ao Tesouro, para que o Governo, que é quem manda na política econômica, não fique na mão de um só grupo. Já os comentaristas econômicos da grande imprensa americana são EXTREMAMENTE CRÍTICOS da política econômica, disputam para ver quem é mais crítico, não há nenhum "alinhamento" vergonhoso como aqui há entre o Banco Central e o Sistema Globo, este operando como "porta voz" oficioso do Banco Central.

O desenho atual, que vem do Plano Real, é a principal causa da recessão brasileira e pelas decisões já tomadas por esse grupo, MANTER A SELIC ONDE ESTÁ e valorizar o Real, a recessão irá se aprofundar. Não há contrapesos para esse grupo, a representação do empresariado está neutralizada pela completa inutilidade das CONFEDERAÇÕES das quais não se ouve nenhum chiado a respeito da POLÍTICA ECONÔMICA PRÓ-RECESSÃO da dupla Meirelles-Goldfajn.

Esse modelo que vem desde o Plano Real funciona EXCLUSIVAMENTE a favor do sistema financeiro e não do País.

O golpe desvendado

Esse texto de Glenn Greenwald foi transcrito do "Tijolaço" do Fernando Brito e deixa claro o que é o golpe: 

A fraude do impeachment de Dilma — e a corrupção de Temer. 

Por Glenn Greenwald

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Ele tornou-se indispensável. Quebrou e ajudou a quebrar o coro monocórdio da grande imprensa. Glenn Greenwald é leitura imperdível, quando faz um balanço crítico dos últimos acontecimentos. Sem mais – desnecessárias – apresentações, seu novo artigo, de hoje, no site The Intercept.
Desde o começo da campanha para impedir a presidente democraticamente eleita, Dilma Rousseff, a principal justificativa era de que ela havia se utilizado do artifício conhecido como “pedaladas” (“peddling”: atraso ilegal de pagamentos aos bancos estatais) para mascarar a dívida pública. Mas nesta semana, enquanto o Senado conduz o julgamento do impeachment, esta acusação foi suprimida: o relatório de peritos do Senado concluiu que “não há indício de ação direta ou indireta de Dilma” em nenhuma destas manobras orçamentárias. Como colocou a Associated Press: “Auditores independentes contratados pelo Senado brasileiro disseram em relatório divulgado na terça-feira que a presidente suspensa Dilma Rousseff não agiu na modificação da contabilidade de que foi acusada no julgamento de seu impeachment”. Em outras palavras, os próprios técnicos do Senado esvaziaram o primeiro argumento na defesa de que o impeachment era outra coisa que não um golpe.
O relatório não isenta Dilma totalmente, concluindo que Dilma abriu linhas de crédito sem a aprovação do Congresso, o que é parte do caso do impeachment. Mas foi a acusação das pedaladas que dominou todo o debate.

Se o impeachment de Dilma foi de fato motivado por seu motivo declarado – a quebra de leis – esse relatório devastador deveria interromper o percurso do impeachment. Elio Gaspari, importante colunista da Folha de São Paulo, maior jornal brasileiro, escreveu na quarta-feira – sob o título “Há Golpe” – que, a luz deste novo relatório, o Impeachment de Dilma pode não ter sido um “golpe” no sentido de que teria sido realizado extrajudicialmente, mas é um golpe no sentido de que é realizado sem eleições: por “estratagemas” através de “práticas ardilosas”.
Mas, é óbvio, o impeachment nunca teve algo a ver com qualquer suposta quebra de lei de Dilma – esse era apenas o pretexto para remover uma presidente democraticamente eleita por motivos ideológicos – o que explica porque a destruição da mais importante acusação contra ela sequer arranhou a dinâmica do impeachment. Mesmo o Estadão, jornal veementemente contrário a Dilma, documentou esta semana como os principais defensores do impeachment mudaram instantaneamente seu raciocínio: do argumento de que as pedaladas exigem o impeachment para o discurso de que, na verdade, isso nunca foi importante em primeiro lugar. Estas são as ações de pessoas dedicadas a um fim sem se importar com as justificativas: eles estão determinados a impedir Dilma por razões ideológicas, então a destruição do caso judicial contra ela não faz diferença.
Ainda mais significante são as crescentes evidências da enorme corrupção do substituto de Dilma, Michel Temer. Em apenas 30 dias desde que assumiu, Temer perdeu três dos seus ministros por conta da corrupção. Um deles, seu aliado extremamente próximo Romero Jucá, foi flagrado em gravação conspirando pelo impeachment de Dilma como uma maneira de estancar as investigações sobre corrupção, bem como indicando que os militares, a mídia e os tribunais estavam tomando parte na conspiração pelo impeachment.
Um informante chave nas investigações, o ex-Senador e executivo da construção civil Sergio Machado, agora disse que Temer recebeu e controlou R$ 1,5 milhão em doações ilegais de campanha, enquanto outro informante disse, na semana passada, que Temer era “beneficiário” de R$ 1 milhão em subornos. Além disso, Temer está agora impedido por uma ordem judicial de disputar qualquer eleição por 8 anos por conta de sua violação das leis eleitorais. Para lembrar: este é quem, em nome da “corrupção”, as elites brasileiras empossaram no lugar da Presidente eleita.
Enquanto isso, o partido de Temer, PMDB, é virtualmente o mais corrupto deste hemisfério. Seu Presidente da Câmara Eduardo Cunha – que presidiu o processo do impeachment – está agora suspenso pelo Supremo Tribunal, e o Conselho de Ética da Câmara acaba de votar por sua cassação uma vez que ele mentiu sobre contas bancárias na Suíça, recheadas de dinheiro de suborno, em seu nome. O mesmo executivo da construção, Machado, testemunhou que três líderes do PMDB – incluindo Jucá – receberam pagamentos num total de R$ 71,1 milhões em subornos. Ao mesmo tempo, dois aliados chave de Temer do PSDB, partido de centro-direita derrotado por Dilma em 2014 – o Ministro das Relações Exteriores de Temer, José Serra, e o oponente de Dilma em 2014, Aécio Neves – estão ambos sob investigação por corrupção.
Ate decidir apoiar o impeachment de Dilma e empoderar seus próprios líderes corruptos, o PMDB era um importante aliado de Dilma. O partido de Dilma, o PT, tem sua própria cota de figuras corruptas. Mas o PMDB é pouco mais que um partido de negociação que existe para lubrificar as engrenagens da corrupção e das propinas em Brasília. A ironia por trás do fato de que este partido tenha sido alçado ao poder em nome da luta contra a corrupção é grande demais para ser posta em palavras. Como afirmou o New York Times em maio, o partido de Temer é o que controlou, e agora arruinou, o Rio: “o mesmo partido que criou uma bagunça no Rio está agora gerindo o país”.
Por mais expressivos que a corrupção de Temer e a fraude do impeachment de Dilma já fossem, dois novos eventos nesta semana vieram reforça-lo. Primeiro, Temer jantou com dois membros do Supremo Tribunal Federal – o órgão que preside a investigação sobre a corrupção e o processo do impeachment. Também estiveram presentes o Ministro das Relações Exteriores, Serra, e seu aliado próximo Aécio: ambos alvos da investigação sobre corrupção. Temer está literalmente se reunindo secretamente com os próprios juízes que estão julgando o impeachment e os processos de corrupção (ao mesmo tempo em que políticos brasileiros, preparando a imposição de medidas de austeridade, estão votando por bajular estes juízes com um enorme aumento de 41% em seus salários: a austeridade não pode ficar no caminho de enriquecer os próprios juízes que decidem se você e seus amigos chegar a ser presidente ou ir para a prisão).
Segundo, ao mesmo tempo em que Temer está se reunindo em privado com estes juízes chave, reportagens revelaram que ele está trabalhando duro em um acordo para “salvar a pele” de Cunha, um dos políticos mais corruptos do país. Temer se reuniu com Cunha nesta semana. Um plano sendo ativamente discutido permitiria Cunha renunciar e então ter seu processo criminal atribuído a juízes favoráveis. Outro prevê que Cunha simplesmente renuncie à presidência da Câmara para aumentar as chances de que ele não seja expulso da mesma por completo. Pior ainda, o Globo reportou hoje que Toemer está agora trabalhado ativamente com Aécio para garantir que o sucessor de Cunha seja favorávela ele: alguém que “não trabalhe pela cassação de Eduardo Cunha”.
Basta pensar sobre o que aconteceu quando estava em jogo o controle do quinto país mais populoso (e rico em petróleo) do mundo. A presidente democraticamente eleita sofreu impeachment apesar da falta de indícios de corrupção pessoal: por políticos que estão afundados em escândalos de subornos e propinas. O principal pretexto utilizado para impedi-la acaba de ser derrubado pelo relatório dos próprios auditores independentes do Senado. E o homem marcado pela corrupção que implantaram no lugar dela – que tem atualmente uma taxa de reprovação de 70%, e quem 60% do país quer que sofra o impeachment – está agora se reunindo secretamente com os juízes cuja suposta independência, credibilidade e integridade eram o principal argumento contra a classificação deste processo de “golpe”, tudo enquanto ele conspira para salvar seu companheiro de partido enriquecido por propinas. E eles estão procedendo para impor uma agenda de direita de austeridade e privatizações que a democracia nunca permitiria.
Sejam quais forem os motivos para se livrar de Dilma, a ilegalidade e a corrupção claramente não tiveram na a ver com isso. É só olhar para o relatório divulgado esta semana pelo Senado, ou o rosto da pessoa que instalaram, para ver como essa é a verdade.

Cai a máscara...

 



Que os tucanos, leia-se PSDB, se tornaram apêndice da corrupção e um partido de direita, retrógrado, a favor do retrocesso e da destruição da democracia no País já dava para desconfiar... Mas, agora a coisa se torna ainda mais clara: o PSDB é cumplíce de Eduardo Cunha, o maior ladrão que já ocupou uma cadeira do parlamento nacional. 

É o que se lê nesta nota de hoje da coluna "Painel", da Folha de S. Paulo, notoriamente uma publicação sempre favorável às manobras do partido do FHC, Aécim e companhia... 

PSDB não trabalhará para que seus deputados votem pela cassação de Eduardo Cunha

Por Painel
Ecos do passado Fiel da balança na Comissão de Constituição e Justiça, o PSDB não trabalhará para que seus deputados votem pela cassação de Eduardo Cunha. Apesar do desgaste que a posição implica, o discurso é que o peemedebista prestou um “serviço relevante para o país” ao dar celeridade ao impeachment de Dilma Rousseff e não merece a condenação institucional da sigla. A percepção dos tucanos é que o Planalto caminha na mesma direção: se quisesse se livrar de Cunha, já o teria feito.