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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A charge da Comenda do Dia

 


Com esta fica aí junto à Comenda do Dia...


* Um deputado de nome Eduardo Cunha conhecidíssimo no Rio de Janeiro por suas maracutaias e envolvimento em inquéritos e processos, quer ser nada menos que o terceiro na linha da sucessão presidencial candidatando-se ao cargo de Presidente da Câmara Federal. 


                            


Não haveria nada demais se o camarada acima não fosse um exemplo do pior que a política brasileira pode produzir...

SUS: uma verdade incômoda...

Sim, uma verdade incômoda a que revela o ex-ministro Alexandre Padilha em artigo que o "Conversa Afiada" do Paulo Henrique Amorim publica transcrevendo texto da revista Carta Capital. Vale a pena lê-lo e refletir sobre o assunto: 


O SUS e a desigualdade no Brasil

Por Alexandre Padilha (*)

O Brasil é o único país com mais de 100 milhões de habitantes que busca oferecer acesso universal à saúde: mas como resolver o subfinanciamento do SUS?



Às vésperas do Natal, depois de dias de internação, felizmente a modelo e apresentadora Andressa Urach recebeu alta hospitalar, com vida e pronta para se reabilitar. Durante todos esses dias, a imprensa e as redes foram ricas em comentar sobre a vida da modelo, sobre boatos em relação a sua saúde, sobre técnicas estéticas, sobre a ditadura da beleza e clínicas e mais clínicas. Raras matérias traziam uma informação que surpreende a todos: depois de um périplo por clínicas particulares sem solução definitiva, foi em um hospital 100% SUS, do Grupo Hospitalar Conceição (um dos poucos próprios do Ministério da Saúde) que a modelo teve a sua vida salva e a saúde reabilitada. Foram médicos e profissionais de saúde que enfrentam todas as carências que estão presentes nos hospitais públicos, que cuidaram da complicação decorrente do procedimento estético. Mais uma vez, neste ato, garantiram a modelo o direito de todos os 200 milhões de brasileiros: o acesso a um sistema de saúde que busca ser universal.

Nem no meu maior devaneio SUSista esperava uma manchete do tipo: “Hospital do SUS salva modelo com complicações em procedimentos estéticos realizados em clínica privada”. Ou ” Ao contrário de Miami, modelo não precisou pagar antecipadamente por vida salva em Hospital do SUS”. Mas é preciso falarmos alto para que esta, uma das contradições da relação entre dois sistemas de saúde, público e privado, não passe desapercebida. Pelo tamanho atual dos dois sistemas no Brasil, é fundamental que as contradições sejam cada vez mais enfrentadas, sob risco de inviabilizarmos o projeto de um sistema público universal com qualidade e reforçarmos a iniquidade também no sistema privado.

O Brasil é o único país do mundo, com mais de 100 milhões de habitantes, que busca oferecer a sua população o acesso universal a saúde. Nem mesmo as novas Constituições da América Latina, apelidadas de bolivarianas, foram tão ousadas:” Saúde é DIREITO de todos e DEVER do Estado”. Ao mesmo tempo, temos cerca de 50 milhões de usuários de planos de saúde médico-hospitalares (eram 30 milhões em 2003) e 70 milhões, incluindo planos odontológicos. Os números de ambos os sistemas impressionam ministros da Saúde e investidores de todo o mundo. O caso similar a modelo, pacientes do sistema privado recorrerem ao SUS, por falta de cobertura ou por situação de emergência é muito mais comum do que se imagina. Desde 2011, quando assumi o Ministério da Saúde, implantamos um conjunto de mudanças de gestão para identificar quando isso ocorre. Com elas, busca-se garantir o ressarcimento do plano de saúde ao SUS, porque é dele que se deve cobrar, não do paciente. Desde então, as operadoras são obrigadas a emitir um número de cartão SUS para todo usuário de plano, permitindo ao Ministério este rastreamento. Você que me lê e é usuário de plano de saúde tem número de cartão SUS e talvez não saiba. De lá para cá, foram recordes sucessivos de recuperação de recursos para o SUS: em 3 anos, mais do que em toda história da Agência Nacional de Saúde (ANS), criada em 2000. Mas muito precisa-se avançar nessa cobrança, e o governo Dilma prosseguiu em novas medidas em relação a isso. O motivo mais comum de internação no SUS por detentores de planos de saúde, acreditem: parto. Recentemente, correu as redes a notícia de turista canadense, que teve parto de urgência no Havaí e, quando voltou para casa, recebeu conta de US$2,5 milhões para pagar.

Poderia citar outros exemplos em que somos usuários do SUS sem nem reconhecermos. Desde 2001, o Brasil é recordista mundial de transplantes em hospitais públicos. O SAMU salva vidas sem perguntar o plano ou exigir cheque. A vigilância sanitária estabelece regras e fiscaliza a comida dos restaurantes, inclusive os chiques, de preços estratosféricos. As mesmas analisam risco a saúde de equipamentos, medicamentos, bebidas vendidas em massa, cosméticos e produtos de estética. O próprio uso do HIDROGEL já estava condenado pela Anvisa, evitando novos casos como o de Andressa Urach.

Estas contradições da convivência de dois sistemas públicos e privado impactam nos maiores desafios atuais de sobrevivência do projeto SUS: o seu subfinanciamento e a iniquidade no acesso aos serviços. E criam um ambiente, no mercado de trabalho e no complexo industrial da saúde, que influencia fortemente outro fator decisivo para uma saúde pública humanizada: a formação e a postura dos profissionais de saúde.

Há um consenso suprapartidário no Brasil: a saúde pública é subfinanciada. A divergência é como resolver este fato. Desde o final da CPMF, que retirou R$40 bilhões anuais do orçamento do Ministério da Saude, o Brasil investe na saúde pública em média 3 vezes per capta menos do que parceiros sul americanos como Chile, Argentina e Uruguai; cerca de 7 a 8 vezes do que sistemas nacionais europeus recentes como Portugal e Espanha, cerca de 11 vezes menos do que o tradicional Sistema Nacional Inglês. Ao mesmo tempo, segundo dados recentes publicados pelo IPEA, a isenção fiscal referente aos planos de saúde no Brasil chegou a cerca de R$ 18 bilhões. Ou seja, o mesmo Estado que não garante recursos suficientes para prover um sistema público para todos, co-financia a alternativa para uma parcela da população, que se vê obrigada a pagar valores expressivos para ter acesso a saúde. Além disso, o mesmo Estado suporta o atendimento de vários procedimentos que de alguma forma não são cobertos pelos planos. A incorporação tecnológica, o envelhecimento da população e o impacto dos acidentes automobilísticos e da violência urbana nos custos dos serviços de emergência e reabilitação, transformam esta equação, já precária, em insustentável. Não a toa, a melhoria da saúde é a primeira demanda da população e ter um plano de saúde, o sonho da nova classe trabalhadora. No último período, dois avanços importantes do governo Dilma foram conquistados: a regra que estabelece quanto União, estados e municípios são obrigados a investir em saúde e a vinculação de um percentual dos recursos do pré-sal. Mas precisamos avançar sempre.

As opções para o financiamento da saúde são uma das expressões da desigualdade não tão revelada no nosso país. É mais do que hora de todos nós, que colocamos a redução das desigualdades como centro de um projeto político, enfrentá-las. Se não o fizermos, perderemos a capacidade de interlocução com segmentos expressivos da classe trabalhadora, que sofre com a baixa qualidade e os custos dos sistemas públicos e privados. Temos que ir para ofensiva no diálogo com a sociedade e explicitar que ampliar o financiamento a saúde passa, necessariamente, por inverter o sistema tributário injusto com o qual convivemos. Não é razoável, em um país como o Brasil, que alguém, ao receber R$ 60 mil em 12 meses de trabalho, paga 27% de Imposto de Renda, enquanto alguém que receber R$ 2 milhões de herança, praticamente não será taxado. Em países como EUA (30-40%) França (45%), Alemanha, Japão (50%) as alíquotas para heranças seriam outras. Estudos de 1999 mostram que imposto sobre fortunas no Brasil, entre 0,8% a 1,2%, em fortunas acima de R$ 1 milhão, renderiam uma arrecadação de cerca de 1,7% do PIB, mais do que era obtido pela CPMF.

A formação e a conduta profissional é o outro território invadido por estas relações dos dois sistemas público e privado. A batalha do Mais Médicos, as denúncias recentes de abuso sexual e preconceito por alunos de medicina nas faculdades e a atitude absurda de algumas lideranças condenarem a campanha antiracismo organizada pelo Ministério da Saúde só explicitaram o arcabouço de valores que influencia a formação dos nossos futuros profissionais, de ambos os sistemas. No cerne, há duas correias de tensão, que se alimentam mutuamente. Por um lado, um ideário liberal de exercício da profissão, que alimenta, desde os primeiros dias de graduação, uma não aposta em um sistema público de qualidade e o desrespeito em relação aos seus usuários: pobres, mulheres, negros, homossexuais e “gente não diferenciada”. Por outro, um mercado dinâmico e lucrativo de tecnologia, órteses, próteses, equipamentos, fármacos, serviços, publicações, congressos que financia uma visão cada vez ultraespecializante da formação e da atuação em saúde. Não a toa, a investigação iniciada pelo Ministério da Saúde, em Março de 2013 que teve luz recente graças a matéria de TV, e o Mais Médicos incendiaram o debate, questionaram paradigmas e condutas. Não há nenhum profissional de saúde no Brasil, nem aquele que se especializou em realizar procedimentos estéticos em clínicas privadas, que não tenha dependido do SUS para se formar. Nos meus tempos de estudante de medicina cunhamos a frase: “chega de aprender nos pobres para só querer cuidar dos ricos”

Esta realidade desafiadora nos abre uma grande oportunidade. O entendimento de que um sistema público dessa dimensão, em um país tão desigual e diverso como o nosso, gera plataforma continental para um amplo complexo de indústria e serviços no campo da saúde. O Brasil será mais rico e menos desigual se pudermos articular as duas perspectivas. Não será possível sustentar um sistema público de saúde sem crescimento econômico e para tal é necessário colocarmos os 2 pés no universo da inovação tecnológica. Ao mesmo tempo, o complexo de indústrias e de serviços da saúde não sobrevive no Brasil se desprezar o mercado interno impulsionado pelo acesso a um sistema público, cada vez mais tecnológico. Usar o poder de compra do estado para fortalecer um setor econômico que gere empregos e inovação tecnológica no Brasil teve, na Saúde, a sua experiência recente mais exitosa. Ela foi calcada de um lado na ousadia, ao estabelecer o interesse público e nacional como o rumo a ser seguido, e previsibilidade, regras que estimulassem o setor privado a fazer este jogo de interesse para o Brasil. Beber dessa experiência é fundamental para fortalecermos a Saúde como um impulso, e não um peso a carregar, na agenda de desenvolvimento do Brasil.


*Alexandre Padilha, médico, 43 anos, ex-Ministro da Coordenação Política de Lula e Saúde de Dilma e candidato a governador de SP em 2014

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A pororoca em Sampa...

Do Viomundo, do Azenha: 


Bessa Freire: Defesa bem humorada do aqueduto Belém-SP


Captura de Tela 2015-01-05 às 11.04.30

                             VAI, POROROCA, PARA O NORDESTE

“Rio caminho que anda / e vai resmungando talvez uma dor.
Ah quanta pedra levaste / outra pedra deixaste sem vida e amor”.
Miltinho – Eu e o Rio

Excelentíssimo Sr. Governador do Estado do Amazonas
José Melo de Oliveira

Saudações! Escrevo essa carta, mas não repare os senões, para dizer o que penso sobre o seu projeto de transportar água do rio Amazonas para o semiárido nordestino, anunciado antes de sua posse num almoço com jornalistas na Secretaria Estadual de Fazenda. Ali, na sobremesa, V. Exª disse ter se inspirado no oleoduto da Sibéria para propor a construção, “com dinheiro do Tesouro”, de um duto, cuja trajetória, nos cálculos dos especialistas, vai da foz do Amazonas até Maceió, cruzando o sertão de sete estados: MA, PI, CE, RN, PB, PE e AL (Ver mapa).
Na ocasião, em presença de todo o secretariado, V. Exª declarou que vai apresentar o projeto no primeiro encontro com a presidente Dilma a quem pretende convencer com argumento irrespondível publicado nos jornais de Manaus (30/12):
– “A água do Rio Amazonas vai para o mar e não há nenhuma comprovação científica de que a retirada da água doce faça alguma interferência na natureza. Se eu fosse a Dilma, investiria na ideia. Vou levar essas ideias para ela, vou colocar no ouvido dela essas minhas loucuras”.
Que loucura que nada, governador! Deixe de autocrítica exagerada. É isso mesmo! Surpreendente revelação: a água do rio vai para o mar. A cada segundo, o rio Amazonas joga fora no ralo do oceano Atlântico cerca de 300 mil metros cúbicos de água, o que representa um quinto de toda a água fluvial do planeta. Quanto desperdício! Para que tanta água, meu Deus? Ela vai se misturar com água salgada, o que é um estrago inútil, o melhor mesmo é compartilhá-la com quem precisa. Imagina se a natureza vai ficar preocupada com a retirada da água doce! Isso é frescura de ambientalista.
Aqueduto Melo Merenda
Sem querer puxar vosso excelentíssimo saco, senhor governador, acho que a Dilma vai a-do-rar. Esse projeto genial, que pensa o futuro amazônico vinculado ao Brasil, reflete o raciocínio simples de pessoa humilde como V.Exª., que começou sua carreira como datilógrafo da Universidade Federal do Amazonas, foi nomeado depois pelo governo militar diretor da Assessoria Especial de Segurança e Informação (AESI), encarregado de identificar os subversivos daquela instituição e depois, em 2005-2006, presidiu a Sociedade de Navegação Portos e Hidrovias do Amazonas (SNPH). Isto lhe dá legitimidade em questões de flumenlogia.
Este projeto, uma jogada de mestre, lhe traz duas vitórias políticas. De um lado, V. Exª que é do PROS (vixe, vixe) entra na seara do Ministério de Minas e Energia, cujo novo titular é o senador cadeirudo Eduardo Braga (PMDB, vixe, vixe), seu adversário derrotado nas últimas eleições para governador do Amazonas. De outro lado, costura relações com os governadores do nordeste. Se o projeto se concretiza, V. Exª decola para outros voos que podem aterrizar quiçá no Palácio do Planalto. Nunca um amazonense foi presidente da República. A hora se avizinha.
Do ponto de vista econômico, as vantagens são muitas. Uma obra de tal vulto vai gerar empregos e salvar empreiteiras desmoralizadas na Operação Lava Jato que investiga lavagem de dinheiro na Petrobrás. O desvio do curso do rio pode render tanto, mas tanto, que o desvio de ovos da merenda escolar vai parecer coisa de criancinha. Além disso, irrigará terras amigas da senadora Kátia Abreu, afilhada de casamento da presidente Dilma, incentivará a produção de soja, fortalecerá o agronegócio, aumentará as exportações, trazendo divisas para o país.
Do ponto de vista geopolítico, os benefícios são incontáveis. O Amazonas, que hoje com seus 6.992,06 km é o segundo rio mais extenso do mundo, se tiver seu curso ampliado atingirá mais de 10.000km, o que o levará ao primeiro lugar no ranking, deixando o Nilo e o Mississipi-Missouri lá atrás. Aí sim será um “rio de integração”, podendo captar verbas do Ministério de Integração Nacional, comandado por Gilberto Occhi (PP, vixe, vixe), cujo orçamento autorizado em 2014 foi de R$ 10,9 bilhões.
Por tudo isso sugiro que o novo curso do rio Amazonas pelo nordeste se chame Aqueduto José Melo Merenda, codinome popular com que seu autor é conhecido no Amazonas. Homenagem merecida.
Flumicídio
Longe de mim querer fazer intriga, mas V. Exª deve desconfiar do novo ministro da Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo. Ele é bem capaz de se apropriar do projeto, modificando-o e dando-lhe conteúdo nacionalista, já que o rio Amazonas é visto pelos xenófobos como um “rio impatriótico”, pois suas águas cavam e engolem terras no Brasil que são carregadas pela corrente oceânica do Gulf Stream até a Flórida, nos Estados Unidos. (Será por isso que a emergente burguesia de igarapé compra imóveis em Miami, querendo ficar perto da terrinha surrupiada?).
O certo é que, com o aqueduto, a Amazônia deixará de ir de bubuia para Miami para seguir em direção ao Brasil profundo. No entanto, enquanto V. Exª quer ir para o Nordeste, advirto que Aldo Rebelo vai escolher São Paulo como destino final. É provável que quando tome conhecimento do projeto genial, com cujas premissas concorda, Aldo Rebelo convoque a equipe que já fez um novo traçado, ampliando a extensão do aqueduto.
No novo curso alternativo proposto, o rio corta o sul do Pará e o Tocantins, dá uma desviada pela Bahia onde corre lentamente, que ninguém é de ferro, desce desconfiado por Minas Gerais onde atravessa a fazenda dos Neves, em Cláudio, para humilhar o aécioporto, e de lá vai resmungando uma dor pelo Rio de Janeiro, bordeando a fronteira até São Paulo.
A escolha que interessa Aldo Rebelo obedece a razões econômicas e políticas. É que ele quer concorrer ao governo de São Paulo, em 2018, ou como candidato a vice-presidente de Lula. Dessa forma, pretende isolar o governador Alckmin (PSDB, vixe, vixe), que decretou o racionamento e está multando quem não economizar água.
Senhor governador, seja qual for o trajeto do aqueduto, o Amazonas está de parabéns por ter um gênio no seu comando. Não ligue para a oposição que vai denunciá-lo como flumicida, assassino de rios. Eles não sabem o que falam. Ao contrário de Vossa Excelência.
A morte dos rios
Dou-lhe, senhor governador, um conselho de graça para levar esse projeto até o final. Existem três livros que V.Exª NÃO pode ler sob hipótese alguma, porque contradizem a tese melo-merendista de que – segundo a ciência – a retirada de água doce não fere a natureza. A leitura deles deixa claro que secas como a de São Paulo ou do Nordeste foram produzidas pelo homem que mexeu com o sistema hídrico e alterou o balanço de entrada e saída de água. Sem programa inteligente de gerenciamento de bacias hidrográficas, a água vai pro brejo e com ela todos nós.
O primeiro livro a evitar é a Morte Social dos Rios – Conflito, Natureza e Cultura na Amazônia escrito por Mauro Leonel, professor do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em integração da América Latina da USP. O autor mostra como os diferentes segmentos sociais se apropriam dos rios, considerados como importantes para a natureza da qual o homem faz parte. Estuda a relação do poder com a malha fluvial desde o Brasil colônia até a República, condenando sua exploração predatória.
O segundo livro que não deve ser lido é de autoria do historiador Victor Leonardi — Os historiadores e os rios — com um estudo sobre o rio Jaú. Ex-professor das Universidades de Brasília, Unicamp e Berkeley, ele relaciona meio ambiente, história social e ambiental e analisa as mudanças ao longo do tempo. O autor escreveu outro livro a ser também evitado – Entre árvores e esquecimentos: história social dos sertões do Brasil — no qual analisa o papel dos rios no interior do país.
O terceiro livro — Os senhores dos rios: Amazônia, margens e história — conta com vários autores e foi organizado por Mary del Priore, ex-professora da USP e da PUC/RJ e Flávio dos Santos, historiador, professor da UFRJ. Lá, os autores discutem conceitos e abordam a dinâmica de fronteira, a diversidade na Amazônia, a organização do trabalho, analisando as representações do europeu sobre a região.
Fuja desses livros, senhor governador, como o capiroto foge da cruz sob o risco de sua leitura fazer V. Exª mudar de opinião. Eles estão apoiados em dados empíricos, em documentos, em fatos. Se os tempos fossem outros, os bons tempos em que funcionavam nas universidades as AESIs, tais livros seriam certamente queimados por atentarem contra a ordem vigente.
Excelentíssimo senhor governador, o nosso projeto — permita que use aqui o possessivo — seja qual for o traçado, traz vantagem adicional: vai levar para fora da Amazônia a pororoca, que derruba árvores de grande porte e deixa insegura a população ribeirinha. Que a pororoca vá estrondar em Maceió, em Santos ou no raio que o parta.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

O "Três em um" do Lula...

Esta veio lá do Viomundo do Azenha: 

O três em um do Lula no         Guarujá, 25 anos depois


raridades
 por Luiz Carlos Azenha
 Se você falar num “três em um” numa rodinha de jovens muitos vão fazer cara de paisagem. É o mesmo que falar em óleo de fígado de bacalhau, DKV ou Olivetti.
Em 1989 ter um “três em um” em casa era símbolo de status. Especialmente aqueles que vinham acompanhados de grandes caixas de som. Vitrola, toca-fitas e rádio, tudo num mesmo aparelho!
Eu morava, então, em Nova York. Era correspondente da TV Manchete.
Testemunhei um momento histórico, via satélite. A Globo colocou ao vivo o sinal do debate presidencial entre Lula e Fernando Collor para ser visto na cidade. Se não me engano, foi num restaurante da rua 46, então a rua dos brasileiros em Manhattan, hoje tomada por comerciantes coreanos.
Durante o debate, Collor “acusou” Lula de um pecado imperdoável para um operário “igualzinho a você” — era o slogan utilizado pela campanha de Lula: ter um “três em um” sofisticado.
O simbolismo era inescapável: o dirigente sindical teria dirigido as grandes greves do ABC em busca de vantagens pessoais. Era um aproveitador. Nos bastidores, dizia-se também que Lula tinha abandonado a cachaça e aderido ao uísque importado, como se isso fosse um crime lesa Pátria.
Na época, ninguém perguntou se Collor também tinha “três em um” em casa. Logo ele, filhinho de papai da oligarquia alagoana! Era o máximo da desfaçatez.
Lembrei-me do episódio ao receber, por e-mail, os links de várias reportagens de O Globo e da Folha sobre o triplex do Lula no Guarujá.
O ex-presidente declarou pagamentos feitos à cooperativa responsável pelo imóvel em 2006. Disse ao imposto de renda ter pago R$ 47.695,38 até então. O valor total foi quitado em 2010.
Em nota, o instituto Lula falou em “suposto apartamento”, já que o ex-presidente nunca ocupou o imóvel e nem assumiu oficialmente a propriedade. Esclareceu que a primeira dama Marisa Letícia comprou uma cota do prédio em 2005, da Bancoop, paga em prestações. O casal não decidiu ainda se fica com o imóvel.
Para turbinar a notícia, a Folha cita corretores não identificados que avaliaram o apartamento em R$ 1,5 milhão. Minha sugestão é que o Otavinho compre o imóvel por este preço. Dinheiro certamente não é problema para o dono da Folha. Nem para os bilionários irmãos Marinho, tão interessados no caso.
marinho
Independentemente da “avaliação” da Folha estar ou não correta, é óbvio que o imóvel é compatível com a renda de um presidente que cumpriu oito anos de mandato, pagou em prestações e hoje viaja o mundo dando palestras.
A questão aqui é outra: por que sabemos tudo sobre o apartamento de Lula e absolutamente nada sobre os imóveis de Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e Aécio Neves? Em nome de quem está o apartamento que Aécio ocupa em Belo Horizonte, por exemplo? FHC tem mesmo um apartamento na avenue Foch, em Paris?
A explicação é simples e repetitiva: dois pesos, duas medidas.
Vinte e cinco anos depois, com a perspectiva de Lula se candidatar em 2018, o “três em um” se tornou “triplex”.
É bala na agulha para enredar o ex-presidente com uma das acusadas na Operação Lava Jato, a empreiteira OAS, que concluiu as obras do edifício no Guarujá.
O ex-presidente deve estar acostumado.
Em 1989, na reta final da campanha, a ex-namorada de Lula, Miriam Cordeiro, apareceu no Jornal Nacional e na campanha de TV de Fernando Collor acusando Lula de ter sugerido a ela que abortasse a filha Lurian, além de falar mal dos negros.
O jornal O Globo chegou a produzir um editorial justificando a baixaria, intitulado O Direito de Saber. Trecho:
Até que anteontem à noite surgiu nas telas, no horário do PRN, a figura da ex-mulher de Lula, Miriam Cordeiro, acusando o candidato de ter tentado induzi-la a abortar uma criança filha de ambos, para isso oferecendo-lhe dinheiro, e também de alimentar preconceitos contra a raça negra.
A primeira reação do público terá sido de choque, a segunda é a discussão do direito de trazer-se a público o que, quase por toda parte, se classificava imediatamente de ‘baixaria’.
É chocante mesmo, lamentável que o confronto desça a esse nível, mas nem por isso deve-se deixar de perguntar se é verdadeiro. E se for verdadeiro, cabe indagar se o eleitor deve ou não receber um testemunho que concorre para aprofundar o seu conhecimento sobre aquela personalidade que lhe pede o voto para eleger-se Presidente da República, o mais alto posto da Nação.
Que ironia!
As mesmas Organizações Globo nunca acreditaram que o eleitor brasileiro tinha o direito de saber que Fernando Henrique Cardoso teve um caso com uma repórter da emissora, ANTES de ser candidato pela primeira vez ao Planalto.
Do caso teria nascido uma criança.
Ambos, mãe e filho, viveram “exilados” na Europa, uma notícia que só foi dada pela revista Caros Amigos no ano 2000! O filho, revelou muito mais tarde um exame de DNA, afinal não era, mas sempre foi tratado como herdeiro.
O brasileiro nunca teve — e provavelmente jamais terá — o direito de saber deste logro histórico! Pelo menos não nas páginas dos jornalões e nos telejornais da Globo.

Comendas & Quinquilharias do dia








* Neste primeiro dia realmente útil do novo ano, o sempre excelente Fernando Brito publica  texto em que faz a comparação entre o sucesso de duas festas populares cariocas - o carnaval e a passagem do ano em Copacabana - com a situação do País e transcreve textos primorosos de Nilson Lage e Fernando Mollica sobre o assunto, ambos com o mesmo viés de reconhecimento ao nosso povo.  São textos que valem a pena para leitura e estão no link: 


                                         http://tijolaco.com.br/blog/?p=24121



* Taí uma boa sugestão de leitura para coxinhas e assemelhados que hoje recebe destaque no Jornal GGN do Blog Luís Nassif Online, sob o título de "A democracia Imperfeita dos Estados Unidos". 




Jornal GGN – O historiador de Harvard, Alexander Keyssar, está lançando no Brasil seu livro O direito de voto: a controversa história da democracia nos Estados Unidos.
De acordo com ele, o país possui várias barreiras para impedir o direito de voto. As eleições nos EUA são realizadas durante a semana, em dias de trabalho, o que prejudica o comparecimento dos eleitores, principalmente os mais pobres, aos locais de votação. “De uma maneira ou de outra, são colocados obstáculos no caminho que leva as pessoas ao voto”, resumiu.
No evento de lançamento do livro no Brasil, ele comentou o resultado das eleições legislativas em seu país. “A participação foi extremamente baixa: 36% dos eleitores votaram e os republicanos receberam 52% dos votos. Fazendo a conta, 52% de 36% significam que a maioria republicana foi obtida com apenas 18,5% dos eleitores. Foi um voto predominantemente protestante e masculino”.


* Pelo andar da carruagem, Kátia Abreu a mais antiga musa do agronegócio no País, atualmente Ministra da Agricultura vai dar trabalho ao cabeleireiro de São Paulo. Com suas polêmicas declarações, Kátia vai tornar brancos em tempo recorde os fios do bigode de Aloísio Mercadante, o ministro-coordenador na Casa Civil do governo Dilma. A última da ruralista foi garantir que no Brasil "não existe latifúndio", assim mesmo, sem a necessária adjetivação de "improdutivo"...

Haja tintura para bigode... 



 * A sede e a sanha dos jornalões, à frente o "O Globo" e o "Estadão" para atacar a Petrobras é tão grande que ambos agora deram para noticiar "pautas negativas" em cima de fatos inexistentes. Nestes últimos dias a estatal foi acusada de criar empresa de papel e ter suas cotações em queda na Bovespa, todas notícias que nada têm a ver com a empresa brasileira. A empresa de fachada mereceu desmentido na hora da Petrobras e a queda das cotações está vinculada à cotação em baixa do petróleo na campanha norte-americana contra a Rússia com apoio dos poços árabes. 

Para o leitor dos jornalões e revistonas fica cada vez mais claro que eles torcem é contra o Brasil mesmo!!!

 * Pelo que se percebe aqui nas Geraes, está explicada a "oposição  selvagem" de Aécio Neves ao governo Dilma, como a classificou o jornal dos Mesquitas há alguns dias. Fernando Pimentel, pelo visto vai mesmo abandonar a postura de Fernandinho Paz e Amor e levar adiante uma varredura em regra das contas dos últimos governos tucanos no Estado, tudo dentro do propósito anunciado por Dilma de "não deixar pedra sobre pedra" na apuração das maracutaias pelo País afora...



O escandaloso Aeródromo de Cláudio, usado pelo emplumado tucano para se refugiar em sua Versailles  é coisa pouca diante do que pode vir por aí....

* Notícia importantíssima dada pelo Lauro Jardim, na sua coluna Radar da "Veja", na edição de hoje: 



Cadê o Serra?

Serra:  onde está ele?
Serra: onde está ele?
Desde que foi eleito senador em outubro, José Serra meio que deu uma sumida. Apareceu na posse de Geraldo Alckmin na quinta-feira passada, falou umas palavrinhas aos jornalistas, mas muito discreto para um senador de 11,1 milhões de votos.
 Deus ajude que continue assim...

sábado, 3 de janeiro de 2015

A imagem do pesadelo...

Dizem os cronistas que o Aécim das Neves, lá na sua "Versailles" em Cláudio, depois de uma brilhante comemoração de ano novo - já que ninguém é de ferro - caiu no sono e acordou com um pesadelo. O colunista da Folha de S. Paulo, José Simão, transformou o sonho em imagem que é essa aí de baixo... 


                               Do twitter de José Simão



Copiada do Conversa Afiada do Paulo Henrique Amorim